O historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisou mais de 10 mil horas de gravações de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) e expôs a realidade aterrorizante das torturas ocorridas durante a ditadura militar (1964-85).
Em um dos casos mais asquerosos revelados nos áudios, uma grávida de 3 meses abortou após receber choques elétricos na genitália.
Parte desse acervo foi publicado neste domingo, 17, por Míriam Leitão, colunista de “O Globo”.
Fico se dedica à analise dos áudios desde 2018 e está na metade do processo. O acervo foi conseguido graças a uma determinação da ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em um dos áudios de 1976, o almirante Julio de Sá Bierrenbach afirma durante um julgamento que “não podemos admitir é que o homem, depois de preso, tenha a sua integridade física atingida por indivíduos covardes, na maioria das vezes, de pior caráter que o encarcerado.”
“Quando aqui vem à baila um caso de sevícias, esse se constitui um verdadeiro prato para os inimigos do regime e para a oposição ao governo. Imediatamente, as agências telegráficas e os correspondentes os jornais estrangeiros, com a liberdade que aqui lhes é assegurada, disseminam a notícia e a imprensa internacional em poucas horas publicam os atos de crueldade e desumanidade que se passam no Brasil, generalizando e dando a entender que constituímos uma nação de selvagens.”
O relatório da Comissão Nacional da Verdade, que investigou os crimes cometidos durante a ditadura, responsabilizou 377 envolvidos e contou 434 mortos ou desaparecidos. Na época, fim de 2014, o Clube Militar considerou que o documento era uma coleção de calúnias.
Veja também: Bolsonaro será denunciado à ONU por defender ditadura militar
Veja também: O estupro era uma das ferramentas de tortura na ditadura
Veja também: Bolsonaro diz que mortes na ditadura foram culpa do comunismo
0 Commentaires