A Prefeitura de Sorocaba, no interior de São Paulo, divulgou nesta quarta-feira, 14, em seu perfil no Instagram, um falso estudo apontando 99% de eficácia do tratamento precoce contra o novo coronavírus, conhecido como kit covid, que não tem comprovação científica e que a Associação Médica Brasileira pede que seja banido.
A informação também foi divulgada em nota à imprensa e publicada no site oficial da Prefeitura.
Ainda nesta quarta-feira, a publicação viralizou e foi um dos assuntos mais comentados no Twitter, mas após uma enxurrada e críticas, o post foi apagado das redes sociais horas depois e a Prefeitura alterou o texto sobre o falso estudo em seu site.
De acordo com o texto original publicado pela prefeitura, o “estudo” foi feito pela Secretaria de Saúde do município, em apenas 123 pacientes com sintomas da covid-19, após dez dias do início do tratamento com os medicamentos azitromicina e/ou ivermectina, 122 pessoas foram curadas em casa e um morreu porque procurou a unidade de saúde quando “já estava com um quadro de saúde moderado”.
No site da prefeitura, o texto original, com o título “Estudo preliminar aponta 99% de eficácia do tratamento precoce”, publicado às 9h04, foi modificado. Em seu lugar entrou um outro, onde os termos “estudo” e “eficácia” foram substituídos por “levantamento” e “excelentes resultados”.
Depois de alterar o texto, ele foi postado novamente nas redes sociais da prefeitura.
A Prefeitura de Sorocaba adotou oficialmente o kit covid para tratamento precoce do novo coronavírus, em 19 de março deste ano. Foram gastos quase R$ 60 mil na compra de medicamentos ivermectina e azitromicina.
O Sindicato dos Médicos de Sorocaba se manifestou sobre o falso estudo divulgado pela Prefeitura do município.
“O Sindicato dos Médicos questiona eficácia do tratamento precoce e considera que não se pode basear em um estudo, que é preliminar e com uma amostragem tão baixa. Estudos com maior evidência, principalmente os ensaios randomizados, têm evidenciado o contrário, que não são eficazes para a covid-19. Tanto isso é verdade que as sociedades médicas de Infectologia e Terapia Intensiva não preconizam esse tipo de tratamento”, informou o sindicato.
Em 19 de janeiro, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou um informativo detalhando que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção da doença até o momento.
“As principais sociedades médicas e organismos internacionais de saúde pública não recomendam o tratamento preventivo ou precoce com medicamentos, incluindo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entidade reguladora vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil”, informou a SBI.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que encaminhou um ofício ao prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) questionando o anúncio postado e pede que seja esclarecida qual a fonte em que o levantamento divulgado se baseou, qual a metodologia aplicada, e também o protocolo aprovado em comitê de ética em pesquisa.
O diretor da Fiocruz de São Paulo, Rodrigo Stabeli, ressaltou, em entrevista ao portal G1, que não há qualquer comprovação científica da eficácia do tratamento em 193 países que estão vacinando contra a doença.
“Quando a prefeitura adota as medidas restritivas, vem imediatamente a queda da doença. Muitas vezes eles acabam confundindo com o tratamento precoce. Anunciaram tratamento precoce sem ter sido avaliado através de um trabalho com método científico. E pelo jeito é um trabalho observacional, não é um trabalho que foi publicado, que passou por análise dos pares”, afirmou o diretor.
O diretor da Fiocruz ainda destacou que não há tratamento contra a doença, apenas a vacina e as medidas restritivas apresentam eficácia. “O que mais me parece ser é um efeito importante das medidas restritivas que foram decretadas pelo prefeito, e não o tratamento precoce. Não existe bala mágica para a covid-19. O que precisa ser feito é, justamente, essas ações preventivas da saúde, como medidas restritivas, medidas severas e restritivas por mais tempo, combinado com um plano de recuperação econômica”, explicou.
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