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Cannabis medicinal auxilia rendimento de atletas nas Paralimpíadas

Em todo o mundo, os benefícios proporcionados pela cannabis medicinal coloca em xeque uma série de antigos preconceitos relacionados à planta cultivada há milhares de anos para diversas finalidades.

Após décadas de estudos, pesquisas, publicações científicas e observação clínica, constatou-se que o efeito medicinal não possui relação com o uso recreativo da planta. Já que sua ação deve-se exclusivamente aos resultados proporcionados pelo canabidiol, substância que reúne propriedades potencialmente terapêuticas para patologias neurodegenerativas ou psiquiátricas. Além de proporcionar outros benefícios fisiológicos como estímulo do apetite ou controle de dores dos pacientes.

CBD  e o rendimento esportivo

Mas nem sempre a cannabis medicinal foi acessível para os atletas Talisson Glock, Susana Schnarndorf e Roberto Alcalde. Medalhistas mundiais, paralímpicos e parapan-americanos, o trio terá a substância como um importante aliado nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, o primeiro após a liberação pela Agência Mundial Antidoping (WADA).

Até pouco tempo, a ideia de ter um óleo de CBD de qualidade como parceiro na preparação e na rotina de treinamentos era algo impensável, dada a dificuldade para conseguir uma liberação, prescrição ou suporte para adquirir o medicamento no país.

Trio representará equipe de natação brasileira nos Jogos Paralímpicos, que começam no dia 26 de agosto – Divulgação/Pangaia

“Eu já conhecia o CBD há bastante tempo, mas nunca foi possível pensar isso no Brasil porque me parecia algo muito distante e extremamente mistificado. Não era uma alternativa pelo difícil acesso, mas o fato da WADA liberar o óleo já mostra que eles tão de olho na ciência e querendo quebrar esse tabu, porque não tem como não olhar para os benefícios que o CBD pode trazer”, conta o catarinense Talisson Glock, 26 anos, que, diante da abertura brasileira sobre o assunto nos últimos anos resolveu ir atrás do óleo para tratar – com sucesso – seus recorrentes problemas de insônia.

“Tem me ajudado demais na recuperação entre os treinos, no descanso e principalmente na qualidade do sono. Não tive problema relacionado ao uso simultâneo de outros medicamentos, nenhum efeito colateral e, até por isso, eu acredito que o CBD é uma ótima estratégia e vai estar cada dia mais presente na vida dos atletas.  Cada vez que nós, atletas de alto rendimento, colocarmos nossos corpos no limite com a ajuda da cannabis medicinal e mostrarmos nossos resultados, outras pessoas de várias idades, perfis e posições abrirão a cabeça e assim ajudamos a quebrar esses tabus”, opina o nadador, que não usufruiu sozinho dos benefícios do composto, compartilhando sua experiência com o companheiro de treinos Roberto Alcalde, 29 anos.

Amigos há mais de uma década, eles conhecem bem a rotina um do outro e, desta forma, foi nítido para Roberto acompanhar os frutos positivos que Talisson estava colhendo com o canabidiol. Pensar em neste tratamento alternativo como algo distante, então, virou passado.

“Nós convivemos há uma década e eu já vinha percebendo os benefícios que o CBD trouxe para o Talisson que, por conhecer meus problemas de ansiedade, sempre me recomendou o uso. Quando minha própria médica me receitou por causa de um outro tratamento tradicional que estou realizando, digamos que eu uni o útil ao agradável”, afirma Alcalde, que desde o início do tratamento diz notar diferenças “inexplicáveis”, que o fizeram inclusive a duvidar da rapidez dos efeitos em tão pouco tempo.

“Demoro para sentir efeito de remédios e estranhei logo de cara a verdadeira ‘dormência’ da minha ansiedade, pois logo comecei a treinar melhor, com mais pensamentos positivos e estou muito mais concentrado. Tenho entregado o melhor que posso, sem pressões e sempre que tive estes sentimentos obtive meus melhores resultados no esporte. Não tem a ver com ganho esportivo, questão muscular ou aumento de potência, mas sim com melhores condições gerais na vida, que me dão a tranquilidade de seguir a rotina de treinamentos equilibrando as coisas, dentro e fora das piscinas. Antes eu estava totalmente desregulado”, explica Alcalde.

Contra resultados não há argumento

Mesmo com seus resultados iminentes em diversas partes do mundo e em um momento de franca expansão no Brasil da mensagem que carrega os seus benefícios, o CBD ainda tem um desafio complicado pela frente na missão de mudar vidas, não só de atletas de alta performance, mas de indivíduos normais da sociedade brasileira que teriam mais esta possibilidade eficaz para seus tratamentos, não fosse um adversário conhecido: a alta dosagem de preconceito.

“Resolvi usar CBD buscando uma nova alternativa, uma vez que o tratamento convencional não estava proporcionando a qualidade de vida que eu queria. A minha doença – que é degenerativa – pode não ter melhorado, mas eu sinto que ele progride bem mais devagar. Tem gente que não quer entender e já rotula logo de cara, mas que bom que a WADA deu esse passo gigante e agora temos voz para contar – competindo em alto nível – que nossas vidas melhoraram”, diz a gaúcha Susana Schnarndorf, 53 anos, que sofre de MSA (Atrofia de Múltiplos Sistemas) e encontrou na cannabis medicinal o alívio para as crises de ansiedade e de insônia.

Em seu rol de conquistas, Susana é pentacampeã brasileira de triatlhlon, entre 1993 e 1997 – Divulgação/Pangaia

“Dormia duas horas no máximo e acordava irritada, não perdia peso e desde que comecei a tomar CBD quebrei um ciclo de coisas negativas para o meu organismo, colocando ele em dia. Tenho outra qualidade de vida agora, não dá nem para falar que é 100% porque é muito mais que isso e, para mim, essa é uma prova prática de que nós, atletas de alto rendimento, se nos sentimos bem com isso e temos experiências positivas, podemos e devemos ser exemplos para outras pessoas”, detalha.

Para Roberto Alcalde, aos poucos, os preconceituosos estarão com os dias contados, até porque também já existe um remédio eficiente e natural – assim como o CBD – contra este oponente: a informação.

“Penso que o CBD passa por um processo de aceitação, assim como o próprio esporte paralímpico sofreu. Com o tempo, os resultados dos atletas, as experiências reais e concretas, as pessoas foram conhecendo nossa história, a verdade e diferenciando as coisas. Ao verem os benefícios do óleo, vão entendendo também que suas opiniões eram baseadas em algo que não conheciam. É uma porta enorme que está se abrindo para gente, está me ajudando demais”, afirma, ressaltando que o primeiro passo para evoluir é entender que é necessário se informar quando não conhecemos um assunto.

“Sigo tendo oscilações, mas em menores quantidades e intensidades. E eu que já fui até o fundo do poço, hoje consigo me controlar para não voltar para lá. Eu não posso abrir mão de algo que me fez tão bem por causa do preconceito dos outros”, pontua a questão.

Quem concorda com a opinião é alguém que, felizmente, não sofreu preconceito por conta de sua relação com a cannabis medicinal, o médico baiano Rodrigo Mistrinel. Muito pelo contrário. Ele utilizou todo o seu conhecimento sobre o sistema endocanabinoide – “Você sabia que ele está distribuído por todo o corpo, com relação direta entre o físico e o emocional?” – para conquistar os colegas de medicina e novos pacientes.

“Eu, ainda bem, não tive muita resistência. Já trabalho com medicina integrativa, um conceito por si só novo e que falo em terapias ainda pouco difundidas. No meio médico, eu já era o ‘diferentão’ alternativo antes mesmo de receitar o CBD”, diverte-se, revelando o que entende ser seu maior diferencial para enfrentar possíveis resistências e seguir fortalecendo o tratamento alternativo e integrativo com canabidiol.

“A forma que você tem de mostrar algo novo é através das validações de amplo universo, com pesquisas e principalmente resultados. No hospital, aos poucos, pacientes com casos que não estavam sendo resolvidos de forma clássica, ao irem para minha mão, tinham resultados expressivos – e contra resultados não há argumentos. Isto, somado ao forte movimento de ativismo, faz com que meus colegas venham espontaneamente e de forma curiosa saber mais sobre este universo canábico da medicina”, comemora, reforçando que a decisão da WADA amplia horizontes não só para atletas de alto desempenho. “É uma conquista para atletas de todos os níveis”.

Progresso em conta gotas

Especialista em medicina integrativa e terapias complementares, Mistrinel acredita que o CBD é o grande expoente desta área e que seu tratamento é ministrado de acordo com a individualidade de cada paciente – que, aos pouquinhos, foram aumentando na vida do doutor e o forçando a tomar uma decisão fundamental em sua carreira: voltar seu atendimento com foco total na valorização deste composto de ações antinflamatórias, termorreguladoras, que controla dores e até mesmo ajuda o psicológico e relaxamento das pessoas, inclusive, dos atletas brasileiros da natação.

“Eu comecei a prescrever o óleo como uma forma de realização pessoal, mas o que começou como algo tímido, foi tomando uma proporção que eu não imaginava.  Fui conhecendo profissionais de altíssimo gabarito, me engajando e conhecendo mais a fundo sobre o movimento canábico e a validação e expansão do tratamento para brasileiros”, detalha o médico, que faz parte de um grupo ainda pequeno de pessoas que tomou decisões mais do que mercadológicas, tornando a ampliação do potencial médico do CBD um propósito de vida.

“Mais do que levar saúde naturalmente para os pacientes com os óleos de qualidade, hoje parte do nosso trabalho também é informar de forma responsável o público. Vivemos na era das fake news e da desinformação, então é mais do que importante mostrar os benefícios do canabidiol contando experiências medicinais e terapêuticas de sucesso, como no caso dos nadadores brasileiros, que emprestam seus relatos para dar ainda mais força ao movimento”, explica Renan Miguel, 32 anos e COO da Pangaia, empresa distribuidora de cannabis medicinal no Brasil.

Segundo o empresário, apesar de se tratar de um mercado novo e que ainda carece de muitas diretrizes regulatórias (além de maior compreensão médica sobre como receitar e controlar a posologia do produto), o segmento medicinal da cannabis tem um potencial imenso de crescimento para os próximos anos.

Óleo de CBD  foi extinto da lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (WADA) – iStock/Getty Images

“Está aumentando o número de médicos brasileiros que procuram qualificação sobre canabidiol e nos procuram dispostos a ouvir sobre CBD e esclarecimentos sobre prescrição e pedidos para a Anvisa, que também só crescem a cada ano. Com as pessoas mais abertas para falar do assunto e com informação de qualidade, eu posso dizer que elas literalmente ‘viram a casaca’ e tornam-se ativistas quando realmente enxergam os benefícios do tratamento”, comenta, orgulhoso pelo envolvimento do seu negócio do ramo da saúde com o esporte.

“As histórias destes atletas são importantes não só para a Pangaia, mas para o mercado como um todo. Está na hora de mostrar de vez a diferença que o CBD faz na vida destes pacientes e de suas famílias e, enquanto atletas de alto rendimento e com histórias incríveis no esporte, algo tão enraizado na cultura do brasileiro, por que não utilizar este canal de inspiração e apoio mútuo – assim como já é feito nos eventos esportivos internacionais – e ampliar a força da cannabis medicinal e da expressão das marcas?”, questiona, revelando sua verdadeira linha de chegada e o real espírito olímpico para quem trabalha com cannabis.

“Ouvir que tiramos eles do fundo do poço ou que resgatamos a esperança em viver dias de mais qualidade, saúde e bem-estar é o nosso ouro”, finaliza.

Veja também: Anvisa cria ferramenta para pedido de importação de canabidiol

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