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Jovem da periferia de SP consegue bolsa para estudar música na realeza britânica

Marcelo Rodrigues, jovem morador da periferia de São Paulo, conseguiu uma bolsa de estudos para cursar música na conceituada universidade associada ao Conselho das Escolas Reais de Música da realeza britânica, a Royal Northern College of Music, que fica em Manchester, na Inglaterra. O músico de 22 anos iniciou um financiamento coletivo com objetivo de arrecadar dinheiro suficiente para arcar com os valores das passagens, custos da instituição e também para se manter com o mínimo de estabilidade financeira no país.

Jovem da periferia de SP consegue bolsa para estudar música na realeza britânica

O estudante de música nasceu em Codó, no Maranhão, e começou a tocar contrabaixo aos 13 anos. Desde setembro de 2018, ele faz parte da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo – considerada a melhor orquestra jovem da América Latina. Ele conseguiu ingressar no projeto em sua terceira tentativa. “Tenho aprendido muito e desenvolvido um trabalho sério e intenso”, afirma.

O contrabaixista estudava música na igreja, depois iniciou estudos em um projeto social em Osasco, o Instituto GPA, onde aprendeu ainda mais sobre o instrumento. Além do contrabaixo acústico, ele também toca contrabaixo elétrico, violão, ukulele e ainda tem noções de bateria e percussão.

“Através desse projeto e da orquestra que é desenvolvida lá, tive a oportunidade de conhecer países com Estados Unidos, França e Argentina e também outros estados brasileiros”, fala.

Vaquinha virtual

O estudante começou uma vaquinha virtual em abril deste ano, e de lá pra cá, conseguiu quantia suficiente para pagar o visto e o seguro para ter acesso ao sistema de saúde britânico. No entanto, ele ainda necessita de fundos para comprar passagens aéreas, hospedagem e alimentação durante o período que estiver por lá, além de mais 3 mil libras para quitar o primeiro ano de estudos na RNCM.

“O custo de vida na Inglaterra é caro, a libra está nas alturas e não tenho condições financeiras pra me sustentar lá sem a ajuda de terceiros. Por isso, continuo divulgando a minha vaquinha e tenho tentado vender algumas coisas e rifar alguns bonecos colecionáveis que recebi de doação de uma amiga. O caminho é longo mas tenho esperança de que tudo vai dar certo”, conta esperançoso.

Processo seletivo para Royal Northern College of Music 

De acordo com o músico, o processo aconteceu inteiramente de forma virtual. Ele teve que enviar dois vídeos tocando e ainda realizou uma prova teórica. Duas semanas depois dos testes, participou de uma reunião com o diretor de cordas da universidade e foi nessa videoconferência que ele descobriu que havia sido aprovado. “A ficha ainda não caiu. Apliquei pra essa universidade pra ‘ver no que dava’ e acabou dando muito certo”, revela.

“Como se não bastasse, um mês depois recebi uma bolsa de estudos de 20 mil libras para o meu primeiro ano, o que corresponde a 90% da anuidade dessa universidade. A Royal Northern College of Music tem uma estrutura invejável e um corpo docente extremamente qualificado. Faz parte do grupo de conservatórios e faculdades que recebe o selo de universidade da Realeza Britânica”, explica.

O curso “Bachelor’s with Honours” (bacharelado com honras) tem a duração de 4 anos e durante esse período ele pretende dividir apartamento com amigos brasileiros que já estudam na RNCM. “Ficar 4 anos longe da família é muito difícil, por isso pretendo eventualmente durante as férias, voltar para o Brasil pra revê-los”, diz.

Mas, para Marcelo realizar o sonho de cursar música no exterior, ele precisa correr contra o tempo para conseguir fazer a matrícula e iniciar as aulas: “Caso eu não consigo estar em Manchester para iniciar às aulas em setembro, a minha bolsa perde validade e eu teria que fazer o todo o processo novamente”.

Marcelo Rodrigues foi aprovado na Universidade Royal Northern College of Music

De Brasilândia para o mundo

O jovem morador da Brasilândia, na Zona Norte da capital paulista, já esteve em alguns países do mundo tocando para muitas pessoas, mas essa realidade foi conquistada à base de muito esforço e empenho no seu trabalho, que por muitas vezes, teve que fazer o dobro de outros músicos que nasceram em famílias com estruturas financeiras mais privilegiadas.

“Acredito que pra alguém que tem a realidade parecida com a minha, só de chegar a uma faculdade já é uma tarefa bem complicada, ainda mais uma de tamanha expressão, no exterior. De onde eu venho, ter acesso ao ensino superior ainda é uma realidade distante, tendo em vista as dificuldades econômicas. Conseguir ultrapassar essas barreiras é algo extremamente gratificante e, poder estar servindo de inspiração para os meus iguais é uma responsabilidade imensa”, relata o músico.

Marcelo Rodrigues ainda fala sobre a questão da desigualdade racial dentro da música clássica: “O panorama é sim ainda majoritariamente branco. É só observar qualquer orquestra no mundo que se pode ter uma noção”. Ele diz que o incômodo de, às vezes, se sentir um “peixinho fora d’água” o faz querer estudar muito mais para que “mais negros tenham acesso não somente à música de concerto, mas ao mercado de trabalho de modo geral”.

O impacto da pandemia

O impacto da pandemia mudou a vida de muita gente, principalmente àqueles que foram dispensados dos trabalhos e ficaram sem nenhum tipo de renda para sustentar a casa. A família de Marcelo, assim como grande parte do Brasil, também foi afetada. A mãe e o irmão ficaram meses desempregados e a única fonte de renda era a bolsa que recebe para tocar na Orquestra Jovem do Estado de São Paulo.

“Tem sido um período difícil, pois diariamente lido com as dificuldades de morar longe do local de ensaio, ter que pegar 2, 3 conduções e me expor ao vírus. Torço e oro para que as coisas melhorem e tudo volte ao normal, porque de fato as dificuldades e desigualdades se agravaram diante desse cenário de pandemia”, lamenta.

Marcelo deseja ser inspiração para outros jovens das periferias e pretende tocar projeto social de música no futuro

Futuro da música clássica

Marcelo ainda precisa conseguir recursos para desembarcar na Inglaterra, mas os sonhos não param por aí. Ele descreve a música como “uma dádiva” e espera que suas notas possam encantar muitas outras pessoas.

“A música me moldou e me deu um rumo, um futuro e quero retribuir isso à ela, às pessoas. Fazer música é mais do que um privilégio, é um presente que Deus me proporcionou”, celebra.

Além da música, ele também pensa no bem-estar da família. “Meu maior sonho sem dúvidas é dar uma vida melhor para a minha família, construir uma boa casa para minha mãe e dar uma vida tranquila para meus filhos que um dia virão”.

Dentre outros projetos, o músico quer desenvolver oportunidades, assim como fizeram com ele, para mostrar que a música também pode ser o trabalho de muitos outros jovens das periferias.

” Existem outros sonhos, como fazer meu mestrado e quem sabe até um doutorado em música. Quero começar um projetor social em comunidades de São Paulo e região, que gere a inclusão de crianças e jovens na música”, afirma.

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