A lunação da libra começa no dia 25 de setembro, às 18h55, horário de Brasília, com o signo de áries, seu oposto, nascendo no horizonte do Brasil e vai até a próxima lua nova, em 25 de outubro. Alguns dias antes, em 22 de setembro, a primavera chegou ao hemisfério sul e, com ela, o sol vestiu o manto leve e elegante da balança.
Signo do elemento ar, regido por vênus, a libra vê beleza na harmonia, na conciliação e justiça, e por isso rege as artes e a diplomacia. Para a libra, não há nada mais belo do que o equilíbrio, coisa que ela persegue como se fosse questão de vida ou morte.
A energia da lunação nos convoca também ao olhar para o outro, que é a maneira da libra entender a si mesma e ao mundo. Com sol e lua juntinhos, justamente no território que fala da importância das parcerias e dos relacionamentos, é inaugurada a temporada da balança.
Do lado oposto, o fogo ariano desponta nos domínios do “eu”, lembrando da importância da luta e invocando Júpiter, planeta da fé, da fertilidade e da expansão com o calor necessário para fazer a massa crescer. Esse diálogo nos ensina que empatia é estratégia de resistência, tática de luta e que olhar para o outro é maneira de expandir o “eu”.
Enquanto isso, marte segue na biblioteca dos gêmeos, escolhendo livros como quem escolhe armas. Ali ele aprende que brincar com as palavras é maneira de afiar a língua. Vênus e mercúrio concordam, pois foram nos domínios da virgem buscar discernimento e aperfeiçoar suas artes para voltar já já, trazendo novas rotinas e critérios para a balança.
Saturno, de longe, observa satisfeito a correria, exaltado pela lunação e domiciliado pelo manto de aquário, quer saber das armas descobertas por marte entre os livros. Disfarçado em meio à multidão dos bons afetos, o deus do tempo e dos limites, dos cortes necessários e das sólidas construções, saúda a potência dos coletivos e das mobilizações e empunha uma ideia afiada dizendo que, se organizar direitinho, o autoritarismo cai!
Confira algumas diquinhas literárias para aproveitar melhor as energias da lunação:
Sol e lua em libra na casa 7 – olhar o outro para saber de si
O desejo dos outros: Uma etnografia dos sonhos yanomami. Hanna Limulja. Ubu Editora.
Uma porta de entrada ao mundo yanomami para quem os sonhos não são desejos inconscientes do sujeito, como entende a psicanálise, mas formas de habitar outros mundos e se encontrar com outros seres. O sonho é coletivo e, ao ser socializado, adquire funções práticas, desempenhando um papel importante no dia a dia da comunidade. O xamã yanomami, Davi Kopenawa diz que os napë pë (os brancos) não sabem sonhar. Sonham apenas consigo mesmos, ao passo que o yanomami que sabe sonhar, que envolve saber o que fazer do próprio sonho, desbrava o mundo e aprende com os outros.
Ascendente e júpiter em áries na casa 1 – resistir de cabeça erguida
Manifesto sobre nunca desistir. Bernardine Evaristo. Companhia das Letras.
Escrito pela autora de Garota, mulher, outras, romance vencedor do Booker Prize de 2019, o livro traz um relato comovente, intenso e bem humorado sobre sua trajetória. Neste título, além de recuperar as raízes de sua família, lembrar relacionamentos, viagens e falar de militância, Bernardine Evaristo nos presenteia com uma revelação franca e nada romantizada de seu processo criativo e de como chegou até ele. Mas acima de tudo, o livro é um manifesto sobre a importância da persistência na perseguição de um sonho. Uma ode ao trabalho artístico e criativo e ao próprio ofício da escrita.
Mercúrio e vênus em virgem na casa 6 – a rotina organiza o milagre
O Método Bullet Journal, Ryder Carroll. Fontanar.
Muito mais do que uma forma de organizar tarefas através de anotações, o método Bullet Journal é uma maneira de diminuir a ansiedade. A promessa do livro é que ao remover as distrações e focar tempo e energia em atividades que realmente trazem resultado, você vai transformar sua vida profissional e pessoal. O livro é um verdadeiro curso para aprender a registrar o passado, organizar o presente e planejar o futuro. Um guia certeiro para quem quer tomar as rédeas da própria vida, ter mais saúde, tranquilidade e produtividade.
Marte em gêmeos na casa 3 – língua afinada, palavras que cortam
Rio Pequeno, floresta, Círculo de Poemas.
Quarto livro do poeta e tradutor floresta, Rio Pequeno reúne palavras como quem reúne instrumentos afinados e armas afiadas. O título do livro faz referência ao distrito Rio Pequeno, zona oeste da cidade de São Paulo, originalmente banhado por córregos e rios, hoje quase todos concretados. Mas Rio pequeno flui apesar de tudo e através dos tempos e gerações com a força da água que tudo vence. A casa da infância, a família, os amores, o tempo, as descobertas e redescobertas do corpo e do erotismo desaguam em Rio Pequeno num transbordamento que põe fronteiras em xeque e expõe as ramificações de um projeto colonialista, que se estende também a corpos e subjetividades.
Saturno em aquário na casa 11 – todo poder ao povo!
Arruda e Guiné: resistência negra no Brasil contemporâneo, Bianca Santana, Fósforo.
O livro reúne textos de Bianca Santana, jornalista, mestra em educação e doutora em ciência da informação pela USP e uma das mais importantes pensadoras da atualidade. Arruda e Guiné são plantas com frequência associadas ao continente africano em decorrência de seus usos litúrgicos nas religiões afro-brasileiras, muito embora não sejam nativas da África. Do mesmo modo, os saberes implicados no uso medicinal e mágico-religioso delas não foram transplantados para cá, mas se construíram nas trocas entre ngangas — feiticeiros — negros e pajés, no Brasil. Por isso, os itinerários dessas espécies falam também dos movimentos de um projeto de resistência negra. A autora reitera os sentidos éticos e políticos dessas plantas, que, hoje, atualizam o significado dos saberes tradicionais como ponto de partida do exercício de reinterpretar e imaginar a democracia.
Nodo norte em touro na casa 2 – caminhos de desenvolvimento
Geografia da Fome, Josué de Castro, Todavia.
Lançado em 1946, quando o país passava por um processo de redemocratização após a ditadura do Estado Novo e tentava enfrentar suas fraturas mais evidentes, Geografia da Fome sumiu das prateleiras das livrarias já há um bom tempo. O livro, que forneceu a base teórica para o manguebeat, já foi traduzido para mais de 25 idiomas e é um clássico fundador dos estudos sobre a fome, tema infelizmente tão atual. Desde os anos 2000, quando ainda uma muito jovem fã de Nação Zumbi, eu procuro este livro em todos os sebos que entro. Virou um ritual, mas nunca encontrei. Reza a lenda que meu avô tinha um exemplar, mas que foi doado sem querer quando ele faleceu. Nesta nova e bem vinda edição, da Todavia, há ainda um texto de apresentação do gigante Milton Santos e um prefácio inédito de Silvio Almeida.
Clara Caldeira
Jornalista, escritora e pesquisadora, especialista em gênero e meio ambiente. Apaixonada por literatura e pelas artes oraculares, está sempre em busca de formas de conectar estudos e paixões. Contato: instagram.com/clacaldeira/
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