Um pouquinho antes do Natal, na manhã do dia 23 de dezembro, a lua chega ao signo de capricórnio para dar início a um novo ciclo. Simbolizado por uma cabra montanhesa com calda de peixe, capricórnio é um signo um pouco mal compreendido, se nos limitarmos à fama de ranzinza, workaholic, ambicioso, frio e durão. Claro que todo estereótipo tem um fundinho de verdade (às vezes um fundão), então vamos tentar entender o que é real oficial e o que é intriga da oposição nessa história.
A própria cabra é uma imagem muito boa para entender o signo. Já viu por aí aquelas imagens de cabrinhas kamikazes, empoleiradas em árvores, feito enfeites de natal, ou se equilibrando em encostas tão íngremes que a foto parece montagem? Pois é! Não é montagem, nem fake news. Para as cabrinhas montanhesas, assim como para o signo de capricórnio, não há montanha alta o suficiente (Ain’t No Mountain High Enough), já diria Marvin Gaye.
O animal, assim como o signo, fala do passo firme em direção ao topo. Objetiva e teimosa, a cabra tem uma meta, uma missão a ser cumprida e não vai sossegar enquanto não conquistar seu objetivo. Signo de terra, pragmático portanto, capricórnio tem sempre algo a concretizar, tem competência para fazer isso, mas sabe que toda grande empreitada requer tempo e esforço, ou seja: trabalho e paciência são palavras de ordem.
Mas pera lá que ainda tem o tal do rabo de peixe! A parte sereia dessa cabra oculta nas uma sensibilidade pouco representada pelo senso comum. A calda revela a profundidade e a força da intuição que também são fundamentais para orientar qualquer escalada. Então, não é que o capricórnio seja insensível, ele apenas está preocupado (e muito!) com a solidez e a estabilidade. E com a possibilidade de chegar ao cume, em segurança, claro!
O que podemos aprender com a energia da lunação que se inicia é, em primeiro lugar, que a solidez das estruturas — assunto de Saturno, planeta que rege o signo de capricórnio — depende do tempo e do auto esforço, mas também da sensibilidade e da intuição. Signo que inaugura o inverno no hemisfério norte e o verão do hemisfério sul, capricórnio diz da resiliência necessária para sobreviver aos extremos. Em tempos de aceleração crescente, e pensando que por aqui o período coincide com férias e recessos para muita gente, a cabra nos aconselha também a fazer as pazes com o tempo e essa, por si só, já uma lição valiosíssima.
Confira algumas dicas de livros para se conectar com as energias dessa lunação.
A Montanha Mágica, Thomas Mann, Companhia das Letras
Clássico absoluto entre os chamados “romances de formação”, A Montanha Mágica, do alemão Thomas Mann, se desenrola a partir da trajetória do jovem engenheiro Hans Castorp. Durante uma inesperada estadia em um sanatório para tuberculosos, ele se relaciona com diversos personagens enfermos que encarnam os conflitos espirituais e ideológicos que antecedem a Primeira Guerra Mundial. A edição mais recente da Companhia das Letras tem tradução de Herbert Caro e posfácio inédito de Paulo Astor Soethe, renomado especialista na obra do autor.
Rastros, Priscila Augustoni, Círculo de Poemas
A vida inscrita na pedra, capaz de atravessar o tempo é o que move este poema em série, em que Prisca Agustoni dialoga com pinturas rupestres da Caverna das mãos (c. 7000-1300 a.C.), situadas num sítio arqueológico na Patagônia, Argentina. São 829 silhuetas de mãos registradas na parede em diferentes épocas. Os versos de Rastros propõe um retorno ao período neolítico em busca das vozes silenciosas e anônimas gravadas nas pedras, em busca de um mundo que já não existe, em busca de uma língua originária, atemporal.
Antes o mundo não existia, Umusï Pãrõkumu e Tõrãmü Këhíri, Dantes
Durante uma viagem ao Rio Negro em 1978 para pesquisar o trançado indígena, m 1978, Berta Gleizer Ribeiro soube que dois indígenas Desana haviam escrito a mitologia de seu povo. Berta foi ao encontro deles no Rio Tiquié. Durante um mês e meio trabalharam juntos. Berta datilografou, revisou e reescreveu o texto deste livro. Organizada e revisada pela antropóloga francesa Dominique Buchillet em conjunto com Luiz Lana a partir do manuscrito original, a segunda edição inspirou-se na Proposta para uma Grafia da Lingua Tukano elaborada por professores Tukano e a linguista Odile Lescure. Umusï Pãrõkumu, ou Firmiano Arantes Lana e seu filho Tõrãmü Këhíri, ou Luiz Gomes Lana, pertencem a um dos grupos de descendência dos Desana, os Këhíripõrã ou “Filhos (dos Desenhos) do Sonho”. Umusï Pãrõkumu era tuxáua e não falava português. Quando tinha 30 anos, Tõrãmü Këhíri resolveu passar para um caderno as histórias que seu pai sabia.
Kindred, Octavia Butler, Morrobranco
Clássico do sci-fi, o romance Kindred, de Octavia Butler, vai virar série, conforme anunciou a FX durante a NYCC 2022, em outubro. A adaptação do romance ganhou data de estreia oficial e será lançada no Hulu no dia 13 de dezembro. No Brasil, a série deve ser lançada pelo Star+, ainda sem data confirmada e, enquanto isso, a melhor coisa a se fazer é ler o livro para se preparar para a série. A obra conta a história de Dana, uma jovem autora que, após desmaiar, é misteriosamente transportada dos anos 1970 para uma fazenda escravista do sul, pouco tempo antes da explosão da Guerra de Secessão. Em um piscar de olhos, ela está de volta ao seu novo apartamento. É a experiência mais aterrorizante de sua vida… até acontecer de novo. E de novo. Entre idas e vindas para passado e presente, a protagonista descobre que a fazenda abriga alguns de seus antepassados, a escrava Alice e o dono das terras Rufus. Quanto mais tempo passa no século 19, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.
Do que falo quando falo de corrida, Haruki Murakami, Companhia das Letras
Disciplina, auto superação, persistência, entrega. Esses são alguns dos combustíveis que movem os maratonistas, mas também os escritores. Neste livro, publicado pela Companhia das Letras, Murakami reflete sobre a influência que o esporte teve em sua vida e, sobretudo, em seu texto. Trata-se de um livro bem-humorado e sensível, filosófico e revelador. Em 1982, Haruki Murakami decidiu vender seu bar de jazz em Tóquio para se dedicar à escrita. Nesse mesmo período, começou a correr para se manter em forma. Um ano mais tarde, ele completou, sozinho, o trajeto entre Atenas e a cidade de Maratona, na Grécia, e viu que estava no caminho certo para se tornar um corredor de longas distâncias. Os anos se passaram, e os romances de Murakami ganharam o mundo. Traduzido em 38 idiomas, ele é um dos autores mais importantes da atualidade. É também um maratonista experimentado e um triatleta.
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