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Vinho e chocolate: experiências em dois museus do World of Wine

Vinho e chocolate, uma daquelas combinações que faz a gente salivar só de pronunciar. Essa irresistível dupla tem museus próprios dentro do WOW, o megacomplexo dedicado ao vinho em Portugal. A sigla para World of Wine é uma ótima interjeição em inglês a sugerir o espanto provocado em quem visita a mais nova atração de Vila Nova de Gaia. Para começar, uma grande esplanada oferece visão privilegiada do Porto, na outra margem do Rio Douro. Entrar no WOW, tirar fotos, selfies ou ficar só admirando a cidade vizinha não custa nada.

Veja nosso guia da cidade do Porto, com pontos turísticos, hotéis e mais dicas

Mas é difícil não se interessar em conhecer as atrações pagas desse mundo do vinho, composto por 12 bares, restaurantes e cafés, lojas, espaços para workshops, degustações, além de sete museus. O quarteirão cultural foi todo criado a partir de velhos armazéns de vinho do Porto durante 2020, ano de sua inauguração. Se levarmos em consideração as restrições impostas pela pandemia, a obra foi realizada em tempo recorde. Feito e tanto. Uau!

Porto visto a partir do terraço do WOW, em Vila Nova de Gaia

Para leigos e entendedores

Não é preciso entender de vinho para conhecer o World of Wine, da mesma maneira que para fazer Enoturismo em Portugal: que regiões visitar sem ser especialista. Principal museu do complexo, The Wine Experience é uma jornada didática para entender um pouco a linguagem utilizada por especialistas e aquele seu amigo besta que se acha sommelier só porque bebeu meia dúzia de garrafas caras (mas não necessariamente boas) na vida.

The Wine Experience, uma das atrações do WOW, em Portugal

A produção de um grande vinho começa pela escolha da uva adequada a determinados tipos de solo e de clima. Por isso há vinhos de alta qualidade em diferentes regiões do mundo, ora em terrenos mais argilosos, ora limosos ou vulcânicos, por exemplo. Das 17 salas do museu, uma delas tem de ambos os lados tipos de solos que caracterizam regiões vitivinícolas portuguesas, entre elas, Dão, Douro, Minho e Madeira.

Tipos de solo de regiões produtoras de vinho em Portugal

Um corredor inteiro apresenta as principais variedades de uvas. Você tanto pode aprender a reconhecer como ainda descobrir onde se deram melhor castas como Tempranillo, Syrah, Malbec e Touriga Nacional, a principal de todo Portugal – os quadros com ilustrações desse espaço expressam a alegria proporcionada por uma boa garrafa de vinho.

Casa portuguesa, com certeza

Com painéis e recursos audiovisuais, a todo momento o visitante é estimulado a descobrir um aspecto responsável por tornar o vinho uma bebida singular, criada a partir da fermentação alcoólica de uvas maduras. O que vai emprestando complexidade à produção é a ação posterior promovida pelo enólogo ao longo do processo.

Fachadas típicas de casas portuguesas

Em outro espaço, as principais regiões portuguesas produtoras de vinho são representadas por meio de construções cenográficas. Vê-se nitidamente diferenças e semelhanças em casas e sobrados. Lá estão fachadas de pedra, paredes caiadas ou revestidas pelo icônico azulejo português. Bateu até uma vontadezinha de ficar por ali mesmo, entrar com pedido de cidadania e curtir o ar refrigerado a espantar o calor da tarde quente em Vila Nova de Gaia.

Sentidos postos à prova

Algumas salas interativas em The Wine Experience mexem com o lado sensorial do visitante. Um quiz procura saber seus gostos pessoais (fruta e cor preferidas, tipo de comida e sobremesa que lhe apetece) e ajuda a descobrir sua casta favorita. Meu teste apontou Cabernet Sauvignon, a variedade de uva tinta mais conhecida e difundida no mundo. Sim, acho que sou um sujeito bem comum.

A ordem é literalmente meter o nariz onde foi chamado na experiência dos aromas. Ao ativar o sensor, o decantador libera um cheiro a ser decifrado. O painel ao lado revela o aroma primário, gerado pela própria fruta e como resultado da fermentação (pode remeter a frutos secos ou algo mais floral) – o buquê do vinho é o aroma secundário, surgido com o envelhecimento.

Ter olfato apurado é uma arte entre apreciadores de vinho

O desafio à percepção termina com o teste do paladar. Momento de aplicar os conhecimentos adquiridos pelo caminho. De posse de sua taça, incline-a levemente contra a luz para verificar sua cor; gire delicadamente para o vinho liberar o aroma; cheire algumas vezes antes de beber um pequeno gole (sinta a bebida passar por toda a boca) e, ao engolir, tente descrever as sensações que o vinho despertou em você. Ninguém sai expert, mas deixa The Wine Experience menos leigo do que quando entrou.

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Vinho e chocolate, uma saborosa união

Você pode visitar apenas um dos museus do World of Wine ou realizar tours combinados de dois, três ou cinco deles. A harmonização com The Chocolate Story faz muito sentido porque, além de resultarem em produtos tentadores, uva e cacau guardam semelhanças em seus processos de produção.

Mapa mostra as regiões do planeta onde se planta o cacau

Assim como ocorre com a uva, o primeiro passo para plantar cacau está na escolha do solo, associado a fatores climáticos. A descoberta inicial feita no tour é que os melhores cacaueiros estão localizados entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, 20 graus ao Norte e 20 graus ao Sul do Equador.

O chocolate na História

Como convém a um museu, visita-se a história do cacau, cujas raízes estão lá entre os Astecas, no México. Naquele tempo o fruto era convertido em uma bebida de alto valor energético, responsável por fazer o impiedoso explorador espanhol Hernán Cortés descrever o chocolate como algo precioso e “capaz de permitir caminhar um dia sem necessidade de mais alimento.”

Raízes do cacau e do chocolate

O que se segue à explicação inicial são todos os aspectos da evolução do chocolate, sempre com fatos datados e pontuados pela história. Tem a reprodução de um quadro em que D. João V (1689-1750), rei de Portugal e Algarves, é retratado consumindo chocolate. É atribuído ao monarca o envio de mudas de cacau para São Tomé e Príncipe, garantindo fornecimento da matéria-prima de forma consistente mesmo depois da independência do Brasil.

Escada serve de linha do tempo no museu dedicado ao chocolate

Seguimos entre os 10 maiores produtores do mundo, sendo que parte da safra é destinada à exportação, como ocorre com a quase totalidade dos países formadores do chamado cinturão do cacau. A exceção dentro desse clube localizado entre os paralelos 20 e 20 é Madagascar, ilha da África Oriental.

Sentir o aroma do cacau de diferentes países é uma das experiências

A exemplo do que existe em The Wine Experience, no museu do chocolate também há salas para testar seu olfato. Admito que o cheiro do cacau de Madagascar é forte de enjoar. Eu também dei uma mordida em grãos secos e torrados, cujo amargor lembra as barras com alto percentual de cacau. No Brasil, tive a chance de experimentar a polpa do cacau durante visita à Fazenda Bananal, em Paraty. Eles também faziam um cocktail sazonal com sementes da fruta.

Uma vibe meio Willy Wonka

O cacau tipo exportação faz a fama de grandes marcas mundo afora, muitas delas são a própria perdição na vida dos viajantes em free shops de aeroportos. Basta você mordiscar um fino tablete de uma gigante suíça (ainda que a barra seja produzida em escala industrial) para notar a sensível diferença entre o que é feito lá e o que as fábricas brasileiras dizem comercializar por aqui.

Parte do tour em The Chocolate Story consiste em visitar uma linha de produção de verdade. O ambiente tem cores e elementos assumidamente inspirados na Fantástica Fábrica de Chocolate, clássico da literatura mundial que já ganhou duas versões no cinema – se você estiver a caminho dos 50 anos, como eu, certamente viu Gene Wilder no papel original de Willy Wonka.

O Museu do Chocolate ainda conta com uma fábrica  chocolates

Era domingo, a fábrica de chocolate Vinte Vinte (e você já sabe por que ela foi batizada assim) estava parada. Nos demais dias você vê funcionários na ativa através da sala envidraçada. Uma experiência simples faz você descobrir que por trás da aparente doçura de uma barra esconde-se uma dose cavalar de açúcar. A técnica é empregada para mascarar a real qualidade do cacau, realidade em 9 de cada 10 barras vendidas nos supermercados brasileiros.

Todos os museus do World of Wine têm lojas próprias. Elas podem ser acessadas independentemente de você visitar algum deles. O tour por The Chocolate Story termina em uma sala com piso de embaralhar a visão e produtos de perder a linha. Mas fui um sujeito controlado em todos os sentidos. Peguei um tablete de chocolate negro 70% e flor de sal (50 gramas, € 4,50) e resisti à tentação de só prová-lo depois de cruzar o Atlântico. Senti-me um vitorioso. Acho que já posso voltar para lá.

Loja no fim do museu é de revirar os olhos

The Wine Experience e The Chocolate Story: € 20 (acima de 13 anos); € 9 (menores de 13 anos; 0 a 4 anos, grátis); € 45 (ingresso familiar: 2 adultos e 2 crianças menores de 13 anos)

Combo 2 museus: € 34 (acima de 13 anos); € 15 (menores de 13 anos; 0 a 4 anos, grátis); € 72 (ingresso familiar: 2 adultos e 2 crianças menores de 13 anos)

Combo 3 museus: € 45 (acima de 13 anos); € 18 (menores de 13 anos; 0 a 4 anos, grátis); € 95 (ingresso familiar: 2 adultos e 2 crianças menores de 13 anos)

Combo 5 museus: € 65 (acima de 13 anos); € 27 (menores de 13 anos; 0 a 4 anos, grátis); € 135 (ingresso familiar: 2 adultos e 2 crianças menores de 13 anos)

Por Fernando Victorino
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