Eu sempre achei que escolher Orlando como destino de viagem fosse atitude só de gente muito corajosa, do tipo que não foge de enfrentar seus medos. Bem, essa teoria caiu por terra nos últimos dias de 2022 quando uma certa pessoa se mandou para lá. Estou falando, claro, da minha ida para o complexo da Universal, na Flórida, no fim do ano passado, com direito a hospedagem no Hard Rock Hotel, um dos 8 hotéis da Universal Orlando com direito a acesso mais cedo aos parques.
A viagem incluiu conhecer os temáticos Universal Studios Florida e Islands of Adventure e o aquático Volcano Bay. Foi minha estreia nos Estados Unidos. E logo nesse tipo de atração. Para eles, sou um first-timer (o popular marinheiro de primeira viagem, como dizia meu avô). Por falar em família, acrescento que não estive só em Orlando, mas na companhia de Nathalia e de nosso filho, Joaquim. Cada um do trio tinha uma relação particular com o destino, como expliquei no perfil do Como Viaja no Instagram.
Falo de medo, mas preciso esclarecer. Meu problema é o desconforto com a altura. Ou seja, montanhas-russas a céu aberto não estão na minha lista de desejos em termos de diversão. Esse conceito particular foi posto à prova durante 4 dias em Orlando.
A verdade é que eu posso afirmar que, sim, é possível curtir os parques da Universal mesmo sem ser fã ardoroso de roller coaster. Pelo menos de montanha-russa real, daquelas que botam a gente nas alturas. Porque os simuladores e as rides indoors… essas eu provei. E aprovei. Caso de Fuga do Banco de Gringotts, na área temática de Harry Potter na Universal Orlando, que a Nathalia destrincha lá no Como Viaja.
Pode parecer incoerente com o título deste post, mas meu debut na Flórida se deu na Krakatau, montanha-russa aquática do parque Volcano Bay. Confesso que não fiquei medindo muito se deveria ir ou não. Como era na água e eu não via a altura das quedas, pensei que fosse suave. Fui de arroubo. Três vezes seguidas (o que a gente não faz para acompanhar um grupo…). Em todas me senti mais feliz no desembarque.
Corrida de carro em NY e voo de vassoura com Harry Potter
Race Through New York fica no Universal Studios Florida. Ela faz parte do tour de Natal na Universal Orlando e foi meu primeiro teste em uma ride virtual – ride é como eles chamam as atrações nos parques. O rolê por Manhattan é feito em um simulador de 3D e 4D. Eu ainda apanhava os óculos especiais quando escutei um conselho valioso. “Caso se sinta enjoado, tire os óculos e abaixe a cabeça.” Caros, eis a regra de ouro a ser levada para todos os brinquedos do tipo.
Corrida pressupõe alta velocidade, então logicamente você é levado a sentir como se estivesse em uma disputa lado a lado contra Jimmy Fallon, apresentador do Tonight Show, pelas ruas e avenidas de Nova York. E também pelo céu e até no fundo do Rio Hudson. Uma experiência imersiva, sem dúvida. De pedir bis.
Hagrid’s Magical Creatures Motorbike Adventure. O nome dessa montanha-russa é tão extenso quanto seus 1.540 metros de comprimento, o que faz dela a mais longa da Flórida. Apesar de ter a maior quantidade de lançamentos do mundo (7), nenhum deles te bota em órbita. Eu meti na ideia que estava pilotando uma moto, então a sensação de vento no rosto e liberdade deu uma amenizada no medinho. Lógico que, se eu fizesse curvas daquela forma nas ruas, iria me lascar certamente.
Ainda dentro da área de Harry Potter na Universal Orlando, Forbidden Journey (Jornada Proibida) impressiona pelo grau de realidade durante o voo em cima da vassoura, com ação em 3D e 4D. Porém, a atração dentro do Castelo de Hogwarts, no parque Islands of Adventure, me incomodou porque somos virados de lado subitamente algumas vezes – não feche os olhos, para não dar tontura.
Simpsons, Vingança da Múmia e M.I.B: às voltas com os anos 90
Os giros repentinos de Forbidden Journey me surpreenderam tanto quanto Men in Black Alien Attack, simulador de movimento que desafia você a matar o maior número de invasores alienígenas. Em matéria de figuras medonhas, Revenge of the Mummy (Vingança da Múmia) é outra atração que alterna deslocamento com emoção. Talvez vocês riam disso, mas estar mergulhado no escuro e, de repente, levar um susto não me incomoda como estar no alto de um trilho. E olha que não curto filmes como A Múmia nem qualquer outro do mesmo gênero.
The Simpsons Ride é mais um brinquedo conectado com os anos 1990. O simulador de montanha-russa põe Bart e sua família no parque Krustyland (ou seja, coisa boa ou convencional não pode vir quando se trata do palhaço de Springfield). A ação é acompanhada em uma tela gigante que envolve todo o domo, dando a impressão de se estar mesmo nas alturas.
Conheço algumas pessoas que já saíram dessa atração enjoadas, entre elas, Nathalia. Eu fiquei na parte de trás do carrinho, o que permitiu enxergar a lateral por meio da visão periférica. Acho que isso minimizou um pouco o efeito em relação a quem está na primeira fileira de assentos.
Aqui faço uma confissão: nas salas que antecedem a entrada para The Simpsons Ride, os avisos de segurança são dados pela dupla Comichão e Coçadinha, o desenho animado predileto do Bart. Foi uma sacada genial falar das regras usando personagens famosos, por causa do sarcasmo ao retratar violência exagerada. Ponto para a Universal pelo senso de humor para dar o recado de algo sério.
De E.T a Jason Bourne, um salto em matéria de entretenimento
E.T. O Extraterrestre estreou nas telas em 1982. Eu tinha 6 anos quando fui levado pelo meu irmão, Rogério, para ver o filme no velho Patriarca, na Mooca. Foi minha primeira vez em uma sala de cinema. E, como quase todo mundo, chorei ao fim da sessão, tentando de forma inútil disfarçar isso.
Passados 40 anos, era portanto uma questão pessoal ir ao E.T. Adventure. Inaugurada em 1990, é um revival dos anos 1980 em todos os aspectos. Não existe a ambientação pensada para envolver o público na fila de entrada, algo comum nos brinquedos mais modernos. Há apenas monitores exibindo um vídeo com a estética do VHS (Google aí, gente mais nova!), com legendas eletrônicas amarelas como as que a minha geração cresceu assistindo em filmes de locadora.
Na mensagem gravada, o diretor Steven Spielberg conta um pouco do que vamos vivenciar. Lá dentro, um certo cheiro de borracha e de tinta me chamou a atenção, em mais um sinal da tecnologia antiga utilizada na concepção do brinquedo. O passeio de bicicleta é suave demais, tanto que Nathalia conseguiu fotografar tranquilamente, mesmo na clássica cena do voo.
Valeu muito pela questão afetiva e por poder perceber o tamanho da evolução vivida no entretenimento. Spielberg é consultor dos parques da Universal há muitos anos, então não espere menos quando se trata do diretor de filmes como Tubarão, Indiana Jones e Jurassic Park, entre outros campeões de bilheteria.
Em matéria de ação, eu saí absolutamente impressionado com The Bourne Stuntacular. É um show de dublês (stunt, em inglês). Uma ode aos profissionais que emprestam seus corpos e inegável talento para fazer cenas arriscadas. Ainda que você nunca tenha visto um filme sequer da série Jason Bourne (difícil, viu, porque volta e meia está passando na TV a cabo), dá para entender do que se trata. Explico: Bourne é um agente altamente treinado para derrotar qualquer oponente, até quem o recrutou e o preparou (ok, a atriz Julia Stiles conta tudo isso com mais competência e riqueza de detalhes na entrada da atração).
Encare como se você estivesse em um set de filmagem. É quase um curta, um quase sexto filme da franquia interpretada por Matt Damon (exceção apenas em O Legado Bourne, com Jeremy Renner). Da mistura de luta coreografada e filme, de realidade com ficção, nasceu um show que impressiona pela capacidade de entreter sem necessidade de a cadeira tremer, voar, subir ou descer. Ah, mas eu não entendo inglês, alguém pode dizer. Não tenha medo. Cinema é uma linguagem universal.
Por Fernando Victorino
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